O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
Fernando Pessoa
A Organização Mundial de Saúde, define a sexualidade como uma energia que motiva para encontrar amor, contacto, ternura e intimidade; integra-se no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-se sensual e é ser-se sexual. A sexualidade influencia pensamentos e, por isso, influencia também a saúde física e mental e tendo como dimensões integrantes a biológica, psico-afectiva, comunicativa, ética, sociocultural e política.
Woods (1995), considera ser a sexualidade um fenómeno que envolve a pessoas no eu todo e que abrange uma complexa interacção da variáveis biológicas, psicológicas e socioculturais.
A sexualidade, bem como todos os sentimentos e sensações que lhe estão associados, sempre fizeram parte da história da humanidade quer de uma forma mais subtil, quer de uma forma mais clara e explícita.
Várias obras de arte da antiguidade, ou mesmo desenhos da pré-história retratam o corpo humano com ênfase nos orgãos genitais (principalmente os masculinos). São igualmente encontradas referencias ao estudo do amor e do apetite sexual desde a Idade Antiga, nos escritos do filósofo Platão, que identificava Eros como o Deus do amor e dos apetites sexuais e dos instinto básico da vida, responsável pela atracção entre os corpos.
Ao longo dos tempos a expressão e vivência da sexualidade tem estado associada a conceitos de pecado e a ideias pré-concebidas, resultantes da rigidez ético-moral da Igreja Católica vigente essencialmente da sociedade ocidental.
O estudo da sexualidade humana teve o seu grande contributo com Sigmund Freud. De acordo com este cientista e investigador, o desenvolvimento da sexualidade está presente desde a infância, sendo ele, o primeiro a referir que as crianças se masturbavam em busca de prazer, inicialmente tratar-se-ia de prazer oral, depois de prazer anal e posteriormente de prazer genital. Freud referiu-se a Eros, o Deus de Platão como a Líbido, a força vital do amor.
Masters e Johnson foram os primeiros a fazerem um estudo científico sobre os aspectos fisiológicos do comportamento sexual. Estes autores comprovaram que a reacção sexual é um fenómeno cíclico – Ciclo da Resposta Sexual Humana - composto por quatro fases: fase de excitação, fase de plataforma, orgasmo e fase de resolução. Reconheceram, através das suas pesquisas, que não há limite de idade para a prática do comportamento sexual.
No entanto, a sexualidade abarca muito mais do que a resposta sexual humana, envolve uma séria de sentimentos, emoções, afectos e sensações que acompanham o indivíduo no seu dia-a-dia ao longo de todo o seu ciclo vital.
A sexualidade nos idosos
Enquanto o Homem viver, seja qual for a sua idade, é capaz de sentir impulsos eróticos,não exstindo nenhuma idade em que a actividade sexual, os pensamentos sobre sexo ou os desejos acabem (Lopez, 1993).
A sexualidade conhece ao longo da vida diferentes fases de acordo com as etapas fisiológicas inerentes ao desenvolvimento do indivíduo: infância. Adolescência, fase adulta e velhice. Fuentes e Lopez (1999), consideram que até a adolescencia, se verifica uma evolução semelhante em todas as crianças uma vez que os processos biológicos e as fases sociais pelas quais passam são praticamente idênticos. Porém depois da adolescência e durante toda a idade adulta, os indivíduos seguem percursos diferentes, manifestando um maior número de diferenças entre si.
Tal como em todas as etapas da vida a sexualidade do idoso é influenciada por uma série de factores: físicos, psicológicos e biográficos de um indivíduo, da existência de um/a companheiro/a, dependem também do contexto sociocultural onde se insere o idoso.
Fuertes e Lopez (1989), mostram que culturalmente, os relacionamentos sexuais têm sido considerados comportamentos exclusivos das pessoas jovens, saudáveis e fisicamente atraentes. A concepção de que os idosos também possam manter actividade sexual não é bem aceite socialmente, preferindo-se mesmo ignorar a sexualidade da pessoa idosa. Apesar destes conceitos culturais, durante a velhice, é frequentemente conservada, a necessidade psicológica de manter viva a sexualidade, não podendo delimitar-se a uma idade própria para que a actividade sexual, os pensamentos sobre sexo e o desejo sexual terminem.
Limentani,(1995) citado por Custódio (2008), diz que os idosos se distanciam e se esquecem do próprio corpo, tanto mais quanto na infância, a sociedade preconizar que a sexualidade deve ser ignorada na velhice. A par desta situação, refere ainda que persiste o problema de grande parte da literatura médica incidir sobre as vivências da sexualidade baseadas exclusivamente no coito, ignorando ou não concebendo outros comportamentos ou práticas igualmente impulsionadoras de prazer e desejo.
Investigadores, como Kaiser (1996), realizaram uma revisão dos últimos trabalhos publicados até então sobre a actividade sexual na Terceira Idade. Entre esses estudos destaca-se o de Pfeiffer (1968), que encontrou, em 95% com idade entre os 46 e 50 anos, uma frequência semanal de relacionamentos sexuais, baixando essa frequência para 28%, nos homens entre 66 e 71 anos. No caso das pessoas idosas casadas, verificou-se que 53% dos casais com idade de 60 anos se mantinham sexualmente activos, o mesmo acontecendo a 24% daqueles cujas idades eram superiores a 76 anos. Nestes estudos verificou-se igualmente que a actividade sexual mais frequente entre os idosos era as carícias, os toques, e finalmente, o coito. Esta investigação, revelou ainda, ser frequente a masturbação em 74% dos homens e 42% das mulheres estudadas e que tanto os homens como as mulheres sexualmente activas na idade madura, eram pessoas que tinham tido mais parceiros (as) sexuais e maior actividade sexual na juventude.
Lima (2006), indica-nos que o avançar da idade é um factor relevante nas alterações do desejo sexual, tanto para os homens como para as mulheres. Aponta ainda, que os comportamentos sexuais sofrem um notório declínio ao longo da vida. Outros autores como ( Masters e Johnson, 1994), designados por ( Lima, 2006), consideram que a idade não interfere no desejo sexual feminino. O facto dos resultados das investigações serem controversos deve-se, por um lado, à diversidade de formas de medir e operacionalizar o comportamento e o desejo sexual e, por outro lado, à influência mediadora de outras variáveis (Lima, 2006).
Algumas das variáveis que podem ser apontadas como comprometedoras da actividade sexual na idade madura são as que se seguem:
- A ausência ou não de companheiro (a).
- A capacidade de interesse do companheiro (a).
- O estado de saúde.
- Problemas de impotência no homem ou de dispareunia na mulher.
- Efeitos colaterais de medicamentos.
- Perda de privacidade, como por exemplo, viver na casa dos filhos.
Entre as causas que podem influenciar a sexualidade do idoso, (Steike, 1997) apontou um dos principais factores a influir negativamente a sexualidade do adulto maduro, o importante desconhecimento deste conceito, assim como aspectos culturalmente proibitivos relativamente à sexualidade dos idosos.
Pode-se afirmar que existem diferenças individuais significativas quanto à sexualidade na terceira idade, as quais têm na sua base factores como as características das relações sexuais na juventude, as próprias alterações fisiológicas do envelhecimento, o estado de saúde do indivíduo, a influência da medicação, a existências de alterações do foro da psicopatologia, variáveis psicossociais, a existência de um parceiro(a) estável, a qualidade da relação, o funcionamento social e o nível educacional do indivíduo.
No que respeita às alterações fisiológicas próprias do envelhecimento,( Fuertes e Lopez, 1989), referem que estas alterações verificam-se de formas distintas e em tempos diferentes, e não devem ser, de forma alguma, classificadas de decadência sexual, uma vez que a sexualidade não se restringe apenas à vertente meramente genital, coital ou reprodutiva.
Espero que tenham gostado do artigo.
Um abraço
Luísa de Sousa