O meu Conto de Natal!
Santo António da Serra, Machico, Ilha da Madeira
Este é um desafio proposta pela imsilva. E eu, como gosto de desafios, aqui vai o meu Conto de Natal.
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Há cinco anos que é sempre assim .... espera, espera, espera e ninguém vem visitá-la!
Dª Maria (nome fictício) teve um AVC há cinco anos que a deixou parcialmente paralisada.
Esteve hospitalizada durante uma semana entre a vida e a morte.
Conseguiu sobreviver e foi internada na Rede de Cuidados Continuados.
Seis meses depois do AVC, foi-lhe dada alta.
O único filho foi informado da alta da mãe para a levar para casa.
Nunca apareceu!
Dª Maria foi considerada "alta problemática" e até hoje, continua internada, à espera de ir para casa.
Quando chega ao Natal, pede à enfermeira a às auxiliares que a vistam a rigor.
A sua blusa de seda verde, a saia plissada preta, os sapatos pretos e a mala a combinar.
Pede que lhe arranjem o cabelo e lhe coloquem os brincos e o batom.
Quer estar bonita e bem arranjada!
Porque ... não vá o filho e a nora aparecerem!!!
No dia de Natal, muito bem vestida e elegante, pede que coloquem a cadeira de rodas junto à janela, onde possa avistar os carros a entrar.
Ainda se lembra que o filho tem um carro preto e, assim que avista um, coloca o melhor sorriso na cara, para pouco depois se desvanecer.
Afinal, não era o seu filho!
Não quer almoçar nem fazer a sesta, não vá aparecerem e ela não estará em condições de os receber!
Terá netos?
Será que vêm junto?
Ah ... não tem prendas para eles!!!
Pede às animadoras que lhe tragam aqueles desenhos e trabalhos manuais que fez!!!
Não vá aparecerem cheios de prendas para ela e ela sem nada para oferecer!
Vêm os grupos de músicos, de animação, de teatro, mas Dª Maria não desvia o olhar da janela!!!
É assim todos os anos ... espera, espera, espera e ninguém vem visitá-la.
À tardinha, com o seu olhar triste, olha para a enfermeira e pergunta:
- Ainda falta muito para o jantar? Tenho de ficar aqui mais um bocadinho, não vá o meu filho chegar!!! Ou será que veio e não me encontrou?
À noitinha, no seu quarto, sem a sua blusa verde, a sua saia plissada e sem os brincos e o batom, Dª Maria, com os olhos marejados de lágrimas e a voz trémula, diz:
- Sei que não me vieram visitar porque estão muito atarefados, devem ter filhos e sabemos como é, dão muito trabalho e levam todo o nosso tempo!
Há cinco anos que é sempre assim ..... espera, espera, espera, e ninguém vem visitá-la!